
Quando eu vejo a rolinha atrás da grade
Eu me isolo na negra solidão
E ela canta uma fúnebre canção
Como um filho que está na orfandade
Pois quem canta precisa liberdade
Pra soltar o seu canto aclamado
Eu queria ser um advogado
Para ir defender minha rainha
A cantiga saudosa da rolinha
Faz lembrar o sertão que eu fui criado.
No sertão quando eu era criançola
Uma dessas pousou no barracão
No terreiro eu armei um açafrão
Peguei ela e prendi numa gaiola
Pai queria botar na caçarola
Pra ficar com o bucho empanzinado
Eu tristonho ouvir tudo calado
Tive pena soltei minha amiguinha
A cantiga saudosa da rolinha
Faz lembrar o sertão que eu fui criado.
A rolinha cantava em meu terreiro
E eu da rede ouvia caladinho
E deitado eu vigiava o ninho
Como um cão que vigia o galinheiro
Quando vinha um moleque presepeiro
Pra mexer com a rolinha no roçado
Eu lascava o cacete do danado
E mandava ir bulir com a vózinha
A cantiga saudosa da rolinha
Faz lembrar o sertão que eu fui criado.
Eu nasci já ouvindo o canto dela
Numa sombra que tinha na mangueira
E na lista que mãe fazia a feira
Eu botava alpiste para ela
Eu dizia mamãe compre daquela
Para ela cantar mais afinado
E com o canto eu ficava consolado
No crepúsculo que vinha de tardinha
A cantiga saudosa da rolinha
Faz lembrar o sertão que eu fui criado.
De manhã quando eu abria a porta
Eu ficava sentado no batente
Para ver a rolinha em minha frente
Procurando sementes pela horta
Eu dizia esta cena me conforta
E ao vê-la eu ficava sossegado
Tendo ela cantando do meu lado
Com a sua plumagem bem alvinha
A cantiga saudosa da rolinha
Faz lembrar o sertão que eu fui criado.
RAFAEL NETO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário