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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Quando ela dorme

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Quando ela dorme



É a hora em que, na certa,

A proteção da coberta,

Corpo entregue ao abandono

Um lindo rosto pequeno

Traz o semblante sereno

De quem goza o justo sono.



Que tu dormes eu bem sei,

Já, até, te imaginei

Envolta em silêncio e paz...

Pressinto cada detalhe

Para os quais não há encalhe

Todos meu amos desfaz.



Teus dias são todos cheios

De afazeres, aperreios

E de loucas correrias,

Com a noite tu desmaias

E, entre sedas cambraias

Recobras as energias.



Nesse momento tão grato

Nada te mina o recato

Até que, do paraíso

Parte um sono impertinente

Pra vasculhar tua mente

E te roubar um sorriso.



Por ti sempre desprezado,

Eu permaneço acordado

Em meu recinto tristonho,

Enquanto o mundo me esquece,

Elevo aos céus uma prece,

Sonhando entrar no teu sonho!



E quando a dor mais aperta

Na madrugada deserta,

Pinta o céu sublime tela...

Eu olho, sem entendê-las,

Um turbilhão de estrelas

Entrando pela janela.



Sussurra o vento do outono,

Sigo a vigiar-te o sono,

Em doce entretenimento

Tu não vês indiferente

Sobre teu corpo dormente

Repousar meu pensamento!



Mesmo ao longe eu te vigio

Sobre teu leito macio,

Da madrugada deserta

Cada suspiro em teu sono

Corpo entregue ao abandono,

À proteção da coberta.



Quieto, te aguarda o sol,

O esplendor do arrebol,

Os corais sobre os abrolhos,

O mar, a selva sombria,

Tudo é luz sorri o dia

Quando tu abres os olhos.



São dois olhinhos pequenos

Num rosto terno e moreno

Singularmente incrustados...

Dois espelhos refletores

De meu mundo de temores

Dois astros do céu baixados! ...



Autor :  Mauro Ramalho




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