Quando ela dorme
É a hora em que, na certa,
A proteção da coberta,
Corpo entregue ao abandono
Um lindo rosto pequeno
Traz o semblante sereno
De quem goza o justo sono.
Que tu dormes eu bem sei,
Já, até, te imaginei
Envolta em silêncio e paz...
Pressinto cada detalhe
Para os quais não há encalhe
Todos meu amos desfaz.
Teus dias são todos cheios
De afazeres, aperreios
E de loucas correrias,
Com a noite tu desmaias
E, entre sedas cambraias
Recobras as energias.
Nesse momento tão grato
Nada te mina o recato
Até que, do paraíso
Parte um sono impertinente
Pra vasculhar tua mente
E te roubar um sorriso.
Por ti sempre desprezado,
Eu permaneço acordado
Em meu recinto tristonho,
Enquanto o mundo me esquece,
Elevo aos céus uma prece,
Sonhando entrar no teu sonho!
E quando a dor mais aperta
Na madrugada deserta,
Pinta o céu sublime tela...
Eu olho, sem entendê-las,
Um turbilhão de estrelas
Entrando pela janela.
Sussurra o vento do outono,
Sigo a vigiar-te o sono,
Em doce entretenimento
Tu não vês indiferente
Sobre teu corpo dormente
Repousar meu pensamento!
Mesmo ao longe eu te vigio
Sobre teu leito macio,
Da madrugada deserta
Cada suspiro em teu sono
Corpo entregue ao abandono,
À proteção da coberta.
Quieto, te aguarda o sol,
O esplendor do arrebol,
Os corais sobre os abrolhos,
O mar, a selva sombria,
Tudo é luz sorri o dia
Quando tu abres os olhos.
São dois olhinhos pequenos
Num rosto terno e moreno
Singularmente incrustados...
Dois espelhos refletores
De meu mundo de temores
Dois astros do céu baixados! ...
Autor : Mauro Ramalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário